sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Tu

Ainda me lembro do dia em que te conheci. Chovia a cântaros e estavas sozinho, sentado na beira do passeio, no centro da cidade, de cara apontada para o céu, olhos fechados, e sorriso no rosto. Quando me aproximei de ti, disseste, sem abrires os olhos, que nada te sabia melhor do que ficar sentado à chuva. Apaziguava-te a quietude, a sensação, o cheiro, a solidão, o frio, o som. Sentei-me a teu lado, e senti a chuva a teu lado. Soube naquele momento que havíamos feito um acordo. Um que não precisou de ser verbalizado, nem se quer fechado com contacto físico. Naquele momento soube que nos teríamos sempre um ao outro. E, a partir daquele momento, sempre tivemos. Mesmo agora, quando não estás bem, quando todos te procuram, sou sempre eu que te encontro. Num qualquer canto da cidade, sentado na beira do passeio, de cara apontada para o céu e olhos fechados. Intrigas-me. Sempre me intrigaste. Mas, por um qualquer motivo, sinto que te compreendo, e tu a mim. Desapareceste-me, e andei maluca à tua procura. Não te conseguia encontrar em lado nenhum. E quando finalmente o fiz, tiraste a cara do céu, pela primeira vez olhaste-me, e com esses teus olhos manchados pelas lágrimas, voltaram as chuvas.

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